Nesta edição, os visitantes do Mercado Medieval de Óbidos mergulharam na História e vivenciaram o cerco de oito meses que a Vila viveu em 1246. Um cerco levado a cabo pelo Conde de Bolonha, o futuro rei D. Afonso III, nas lutas de hegemonia que o opuseram a seu irmão, o, então, rei D. Sancho II. Neste conturbado período, a vila manteve-se fiel ao seu soberano.
Apesar das intenções do futuro Afonso III serem as de obrigar os habitantes de Óbidos a reconhecerem-no como legítimo soberano, a verdade é que, numa assembleia convocada pelo alcaide D. Fernando, governantes e nobres juraram continuar fiéis a D. Sancho. O cerco durou oito meses, apesar das tentativas conciliatórias do Conde de Bolonha, e o recurso às armas foi inevitável. A estoica resistência de Óbidos forçou ao levantamento do cerco e à marcha sobre Coimbra, só cedendo a vila a sua coalizão, aquando da morte de D. Sancho II.
Após este cerco ao Castelo, associado ao Conde de Bolonha, surge o ímpeto pela qual Óbidos foi reconhecida, “Muy Nobre e Sempre Leal Vila d’Óbidos”, enaltecendo a lealdade que os habitantes da vila tiveram por D. Sancho II.
Muitos outros cercos se seguiram nos séculos posteriores, conseguindo Óbidos sempre manter a suas convicções, levando a questionar a forma como tal seria possível: sobreviver a cercos tão longos, sem que tivessem acesso a mantimentos de alguma forma. Foi, então, crescendo a ideia de que tal só seria possível através de uma rede de túneis secretos, que permitiam o abastecimento dos habitantes da vila nestes momentos de cerco – apesar de, a nível arqueológico, não existirem nenhumas indicações nesse sentido. Esta ideia dos túneis tornou-se mais evidente, na tradição oral, pelo nome segundo o qual os obidenses ainda hoje são conhecidos: os toupeiros.
Um evento marcante
Nos 16 dias de realização do evento, foi possível assistir a mais de 100 espetáculos de música, 48 espetáculos de teatro, 52 torneios, 4 eventos de recriação histórica (Cerco ao Castelo), 24 cortejos, 32 demonstrações de voo de Falcoaria, 8 espetáculos de fogo.
O Mercado Medieval reservou ainda uma novidade para o dia 19 de julho: um espetáculo de vídeo mapping e sonoplastia, subordinado ao tema “À Conquista do Castelo de Óbidos”. A história de lutas e de glórias foi contada através de efeitos especiais, adaptados à fachada, com técnicas de som e luz, em três sessões de seis minutos cada ao longo da noite. Um espetáculo único e exclusivo que não deixou ninguém indiferente.
No evento, que contou com a existência de 18 tavernas, 2 tascas e 2 associações de recriação histórica, estiveram milhares de visitantes que se deslocaram de todo o país, especialmente da região centro e norte, para além de visitantes de outros países, dados apurados através de um inquérito realizado pela equipa organizadora. De acordo com os resultados obtidos, o que os visitantes mais apreciaram neste evento foi, acima de tudo, o ambiente de convívio oferecido, bem como a diversidade, os espetáculos e animação, os trajes e o empenho de todos os protagonistas envolvidos. A consequência é um público altamente satisfeito, com a totalidade das respostas entre o “muito bom” e o “excelente”, garantindo o regresso a Óbidos para este e outros eventos.
“O Mercado Medieval, nesta 13.ª edição, está a ser espetacular”
Segundo Ricardo Ribeiro, administrador da empresa Municipal Óbidos Criativa, “o Mercado Medieval, nesta 13.ª edição, está a ser espetacular”. palavras do responsável em 2014. Este garantia que “a recetividade por parte dos visitantes tem sido muito boa e aquilo que mais realçam é a atmosfera que se vive em Óbidos e isso é, talvez, aquilo que nos distingue dos outros eventos medievais”. Lançava ainda o convite: “aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de vir até Óbidos, o convite fica feito. Venham, porque, do ponto de vista da animação, dos torneios, da indumentária, de toda a vivência e da gastronomia que se vive em Óbidos, é uma oportunidade fantástica, porque eventos como o Mercado Medieval são únicos e darão, com certeza, o tempo por muito bem empregue“.
Fontes
Pereira, P. Avelino de Jesus da Costa e Marcelino Rodrigues, Documentos de D. Sancho I (1174-1211), Volume I, publ. por Ruy de Azevedo, Universidade de Coimbra, 1979.
Trindade, João, Memórias Históricas e diferentes apontamentos, acerca das antiguidades de Óbidos, Leitura, apresentação e notas, Imprensa Nacional – Casa da Moeda / Câmara Municipal de Óbidos, 1985.
Câmara, Teresa Bettencourt, Óbidos. Arquitectura e Urbanismo. Séculos XVI e XVII, Câmara Municipal de Óbidos/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1990.
Linha do Oeste. Óbidos e Monumentos Artísticos Circundantes, Assírio e Alvim, Lisboa, 1998.
Pereira, Jose Fernandes, Óbidos, Editorial Presença, Lisboa, 1989.
Silva, Manuela Santos, A região de Óbidos na Época Medieval. Estudos, Património Histórico, Grupo de Estudos, Caldas da Rainha, 1994.
Silva, Manuela Santos, Óbidos e a sua região na Baixa Idade Média, Dissertação de Doutoramento em História Medieval apresentada pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Lisboa, 1996 (versão original policopiada).
Silva, Manuela Santos, Óbidos Medieval. Estruturas Urbanas, e Administração Concelhia, Patrimonial, Cascais, 1997.
Óbidos Diário – Comunicação Institucional do Município de Óbidos – 31 Julho 2014
Observador – Jornal diário online – 10 Julho 2014