“Quantas crianças e adultos não puderam ser confrontados com uma realidade, que não pretendendo ser rigorosa (conceito esse dificílimo de assegurar), nos aproximou a todos de um tempo e de uma época já vivida outrora pelos nossos antepassados? E quantos de nós não puderam imaginar o que seria a vivência nestas ruas, nesta vila, neste castelo? Umas jovens brasileiras, fascinadas pelo evento, e que haviam vindo no primeiro sábado, acabaram por voltar no segundo para assistirem ao assalto ao castelo e uma delas fazia, com os olhos a brilhar, referência à possibilidade de na parte das falhas do lançamento da escada de cordas, essa atabalhoação ser historicamente verdadeira. Ou seja, até que ponto a representação não é fiel? Quantos de nós – entre os vários milhares de pessoas que encheram por completo a cerca – não fomos seguindo a representação e imaginando um outro tempo e uma outra forma de viver? Essa projecção mental ou a figuração que assistimos acabou por criar um registo de forte pedagogia, que fez com que o mercado não fosse apenas um evento no ano 2003, mas também um momento de viagem no tempo. Já imaginaram, por exemplo, o bem que se pode fazer ao País, quando nos centros históricos, como o de Óbidos, existe uma estratégia de o viver.
Quantos estrangeiros não saíram fascinados por encontrarem uma vila como esta vestida à sua época? Acreditamos por isso que o mercado medieval, não é apenas uma estratégia de animação cultural, mas assume-se como um valor de património e como um bem cultural que faz mais pela nossa história, do que seguramente, muitos livros clássicos de História de Portugal. E já imaginaram como se devem ter sentido as pessoas do concelho, e da própria vila, que foram protagonistas, desde as colectividades, aos comerciantes, que foram na generalidade uma riqueza acrescida, ao serem transformados em personagens de um tempo histórico? Eles, que estão de parabéns, pela forma como souberam estar nesta grande e complexa produção, podem ser conduzidos pela procura das vantagens económicas e pelas vendas que puderam
fazer, mas também são completamente mobilizados por saberem que estão a fazer cultura e a participar nesta operação de pedagogia. O torreão surgiu, pelas mesmas razões que os trajes, as tavernas, etc, etc, a procurar com que o visitante sentisse que estava numa outra época.
Penso que o conseguimos fazer (…)”, escreveu Telmo Faria, Presidente da Câmara Municipal de Óbidos, em 2003, no Editorial da RIO.
Milhares visitam Mercado Medieval de Óbidos
Decorreram em ambiente de festa total os 10 dias do Mercado Medieval de Óbidos. Milhares de pessoas visitaram esta iniciativa organizada pela Câmara Municipal de Óbidos e, literalmente, mergulharam na História, numa verdadeira viagem ao passado. Com o castelo como pano de fundo, cerca de 300 atores e figurantes, vestidos a rigor, fosse na indumentária, fosse na postura, fizeram as delícias de todos aqueles que por ali passaram.
Francisco Salvador, adjunto do Presidente da Câmara Municipal de Óbidos e um dos organizadores deste Mercado Medieval, garante que, apesar de terem sido limadas algumas arestas durante o decorrer da iniciativa, “tudo correu como o previsto, tendo sido um verdadeiro sucesso, não só em número de visitantes, como em qualidade de apresentação de todos os produtos disponíveis na feira – gastronomia, animação, artesanato, entre outros”.
Francisco Salvador dá um especial destaque ao apoio que os comerciantes de Óbidos deram ao Mercado Medieval. “É muito gratificante ver que os comerciantes dos mais diversos ramos abraçaram esta atividade e mergulharam connosco na História. Engalanaram as lojas, vestiram-se a rigor. No fundo, perceberam o espírito da época, e isso é, de facto, muito positivo”, frisou. Quanto à animação, Francisco Salvador é peremptório: “Foi um espetáculo. Todos os dias houve uma atividade diferente e muita animação por todo o recinto. Era notório a satisfação das pessoas”. Malabaristas, saltimbancos, jograis, mendigos, músicos e bailarinas animaram toda a vila de Óbidos, onde decorreram, em simultâneo uma série de animações.
No sector da gastronomia, o adjunto do presidente da CMO entende que as colectividades do concelho “mostraram uma grande qualidade nos pratos apresentados, sempre dentro do espírito da época”. Talheres de madeira, copos e pratos de barro foram os principais utensílios utilizados. Na componente gastronómica, quem passou pela cerca do castelo, teve oportunidade de deliciar-se com febras, espetadas, sopas variadas e outras iguarias medievais.
Fontes
RIO – Revista Informativa de Óbidos – Agosto 2003