Artes e Oficios
2010

No período conturbado do Rei D. Fernando, e face à ameaça de pelejas com Castela, torna-se necessário reforçar as estruturas defensivas do Reino. Óbidos, com importante posição estratégica, beneficiou do programa fernandino de cercas, torres e torreões. Para que tal seja possível, recorreu à anúduva, permitindo que habitantes dos Coutos de Alcobaça e Atouguia da Baleia sejam convocados para esses trabalhos.
O Mercado Medieval, partindo deste princípio, desenrolou a sua ação com a Vila pejada de pessoas, operários (canteiros, carpinteiros, ferreiros), comerciantes e almocreves, taberneiros e estalajadeiros que aproveitam o movimento frenético dos trabalhos. Cresceram panos de muralha, torres e torreões, aconteceram os acidentes, animais que se revoltaram e que fugiram à dureza do trabalho; conflitos entre trabalhadores, apesar do vinho ser cortado à terça.
As cadeias estão cheias, mais de insurrectos, do que criminosos. São os roubos de pequenos animais, a lenha roubada às matas da rainha e as consequentes perseguições dos Monteiros e Meirinhos.
No paço real, o paceiro pugna pelo respeito e ameaçou denunciar os prevaricadores ao Alcaide.
Músicos, actores e saltimbancos divertem as massas; a euforia compensou o rigor dos dias e os toques dos sinos que norteavam os trabalhos durante o dia, ficaram mudos durante a noite. A ordem foi reposta com a chegada dos representantes da Casa da Rainha que vinham observar o andamento dos trabalhos e avaliar o andamento dos negócios. A partir disso, sossega a arruaça e renasce o divertimento palaciano com trovadores de cantigas de amigo e bobos elegantes de movimentos. Abriu-se um sorriso em detrimento do riso desbragado.

Novo horário, novo modelo
Considerado um dos mais emblemáticos eventos medievais do País, o evento apresentou, nesse ano, um novo horário. Abriu ao público apenas de quinta-feira a domingo. Com este novo modelo, a organização proporcionou aos visitantes espetáculos com muito mais qualidade. Todos os dias houve torneios e cortejos.
Os mais pequenos não foram esquecidos. A Torre Mágica, um novo espaço do Mercado Medieval de Óbidos 2010, direcionado para crianças dos 3 aos 12 anos, decorria no interior da Torre Albarrã, em pleno recinto da Cerca do Castelo, onde se desenvolveu um atelier de construção de adornos, para os mais pequenos cobrirem a cabeça, e um teatro de fantoches, com a recriação da lenda da conquista do castelo. Com duração de uma hora, nestas actividades, as crianças foram convidadas a viajar na história, a contactar de perto com o nosso património e a experimentar a profissão de artesão.

Assalto ao Castelo anima Mercado Medieval de Óbidos
Realizado nos dias 1, 8 e 15 Julho, esteve de volta o Assalto ao Castelo – uma recriação histórica que representou a arte de guerrear e as diferentes estratégias militares desenvolvidas na época medieval. “Esta encenação é um momento único, um espetáculo que irá atrair muitos milhares de visitantes”, conclui José Parreira, da organização do evento, a Óbidos Patrimonium, E.E.M, que este ano reforçou a aposta na qualidade e quantidade da animação durante o Mercado Medieval. Foi preparado um programa diversificado, onde todos os grupos percorreram os diferentes espaços do recinto, procurando trazer vida ao mercado. A qualidade e riqueza de grupos locais foram algumas das valências a destacar, bem como grupos de referência nacionais e internacionais.
As Ceias Medievais permitiram reviver o passado intensamente e de forma divertida. Recriaram o ambiente de um repasto medieval, rico em iguarias, num ambiente único, onde a música e a dança foram uma constante, e que proporcionou uma experiência única, mesmo no coração do mercado – no palco principal, onde decorriam os grandes espetáculos.
O Mercado Medieval de Óbidos pretendeu, cada vez mais, ser uma festa da história e, como em todas estas festas, não faltaram os pratos recomendados e preparados pelas coletividades do concelho de Óbidos, especialmente para o evento. Ao todo foram mais de mil voluntários divididos nas quase duas dezenas de colectividades do concelho presentes. As tabernas ofereciam os pratos e bebidas da época. O Convento das Casimiras oferecia uma cerveja artesanal e pouco católica. “Feita em casa e por passatempo“, afiançou Carlos Casimiro. Já o Bafo do Dragão, segundo António Franklim, da taberna Alquimistas, foi “a solução para todos os males”. Com 40 fins-de-semana do último ano passados em feiras medievais, este sacerdote garantiu que beber “o sangue de unicórnio com óleo de dragão todos os dias afasta o mau-olhado e traz a vida eterna“. O visitante acreditava e o pedido ficou feito: “Expurgai-o de todos os males e dai-lhe a vida eterna!“.
A estes juntaram-se os grupos de teatro, música e animação nacionais e estrangeiros que recriaram as festas, cantares e combates da época, entre eles os espanhóis Els Berros de la Cort, que, habituados a marcar presença nos mercados medievais de vários pontos da Europa, não têm dúvidas em considerar o mercado de Óbidos “um dos melhores“.

O Mercado Medieval de Óbidos 2010, em números:
• 129 pontos de venda (19 tasquinhas e 110 bancas de artesanato, outros produtos e serviços);
• 19 colectividades representativas das 9 freguesias do concelho de Óbidos
• 10 grupos de música (Portugal, Espanha, França e Itália)
• 16 grupos de animação diversa – teatro, recriação, combate… (Portugal, França e Itália)
• Total: Cerca de 130 elementos de animação.

Fontes
Silva, Manuela Santos, O Concelho de Óbidos e os Seus Senhores Óbidos na Idade Média, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Centro de História da Universidade de Lisboa, 2008
Diário de Notícias, por Rita Teixeira – 10 Julho 2010
Tinta Fresca, Jornal de Arte, Cultura & Cidadania – 1 Julho 2010

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