A viagem ao passado de Óbidos, em 2005,, decorreu de 14 a 24 de Julho, onde, ao longo de 11 dias, a vila deu um mergulho na história e, à semelhança de outros anos, proporcionou um tema por dia com muita diversão. Deste Mercado há a destacar a festa de música medieval, com os franceses In Taverna e Aux Couleurs du Moyen Age, os portugueses Strella do Dia, Ai Deus e u é, VádeFolia e Galandum Galundaina.
1o dia – 14 Julho – Ao Castelo chegam os Artífices
Vinham de todas as partes. O mestre marceneiro e das carpintarias veio do norte, das terras de Compostela, calculando como ia erguer o trabuquete (a mais temida arma desses tempos); veio com a joalheira e o filho Alejo, que já sabia como naqueles dias ia brincar com Guilherme que tinha vindo com a sua mãe – que com as mãos tecia cotas de malha como se de catedrais se tratasse.
As velas de cera d’abelhas vieram de mais longe, da Germânia, a Cirieira sabe o segredo da luz; outros traziam ervas frescas de Sintra, ervas curadoras, mudando os ares com o seu perfume; também a lã era pano. Estela, a tecedeira carregou as cousas que faziam do novelo, as roupas de lã.
Alguns vieram porque sabiam as letras e como desenhá-las, outros por mexerem no barro, ou nas peles curtidas dos animais. O ferro foi esforçado no fole de um navarro, alfageme e sonhador de artilharias e da pólvora que chega d’Oriente, das terras de onde veio Hagira, que nunca foi escrava e nos libertou dançando nas sedas que pintou.
E outros, muitos outros, que levantaram nesse dia as suas tendas por entre as tabernas que as gentes d’Óbidos também levantou. De comer e esperar por mais. E na Vila se prepararam os mercadores de todas as cousas, separados os mouriscos, adivinhos e toda a sorte de gentes mais bizarras. Na praça de Santa Maria se espalharam, convidando a todos que pelas ruas da Vila se perdiam até a sua arte encontrarem. A Vila de Óbidos foi nestes dias um mercado doutros tempos.
2o dia – 15 Julho – As Bruxas
Pela noite chegaram. E com elas os medos. As bruxas juntaram-se no meio da Vila onde ditaram crenças e adivinhações. Nessa noite elas foram as senhoras da terra.
3o dia – 16 Julho – A Conquista do Castelo
Um tempo também de guerra. De quem era o Castelo? Onde era Portugal? Era necessário o recrutamento de todas as gentes para a guerra. O Castelo ia ser conquistado.
4o dia – 17 Julho – As Crianças
Era tempo de mui poucas chegarem a grandes. A fome e a doença só deixavam a algumas a sorte de crescerem. Mas já tinham os seus jogos e brinquedos. O dia foi todo para elas.
5o dia – 18 Julho – A Música
Festa de música medieval. Todos os músicos e músicas numa noite: De França In Taverna e Aux Couleurs du Moyen Age, os portugueses Strella do Dia, Ai Deus e u é, VádeFolia, Galandum Galundaina…
6o dia – 19 Julho – O Teatro e a Dança
Trupes de saltimbancos invadiram o mercado. Por umas moedas fizeram teatros e dançaram fazendo a todos bailar.
7o dia – 20 Julho – A Fome e a Peste
O sol secou as terras. Não se colheu o pão. A fome ameaçou e à fome que enfraquece os corpos, seguiu a sua irmã peste. As vítimas tiveram que ser isoladas. Físicos com suas máscaras, piras de cadáveres levadas por homens sabedores de também irem morrer. O ar pestilento pelo fogo foi tirado do impuro. Era a noite da Dança da Morte.
8o dia – 21 Julho – Revoltas Populares
Novas regras decidiu o Senhor que tomava posse destas terras da Rainha. Regras que seriam a gota de água. Os impostos estavam prestes a subir e a fonte da revolta num momento se levantou. O Senhor que se cuide!
9o dia – 22 Julho – O Regresso do Poder
A repressão da revolta popular estava no ar. Uma força de cavaleiros retomou a posse da Vila para a Rainha. Demonstraram perante o Povo a sua destreza praticando com suas armas.
10o dia – 23 Julho – A Mulher
A Casa da Rainha chegou para passar uma temporada nestas terras perto do mar e de águas boas. Com ela veio a sua corte de Damas e acompanhantes. Óbidos, terra de mulheres.
11o dia – 24 Julho – A Partida
O mercado ia acabar. Iam partir artesãos e mercadores, atores e jograis, encantadores de serpentes, cozinheiros, os dias medievais acabavam nesta noite, com a festa final dos que os fizeram. Óbidos ía continuar todo o ano a ser uma Festa da História.
Workshop de Danças Medievais e Renascentistas
Na sequência dos três seminários realizados no ano de 2004 com a professora Maria dos Anjos Lobato, e que tiveram como consequência a criação de dois grupos de dança antiga em Óbidos (o Grupo de Danças Antigas Josefa de Óbidos – Capeleira e o Grupo de Danças Antigas ‘A Corte na Aldeia’ – Arelho), teve lugar, no dia 5 de Maio 2005, um Workshop de Danças Medievais e Renascentistas ministrado pela professora Leonor Beltrán. Inserido numa preocupação de formação, destinada à criação de grupos que, no concelho de Óbidos, se dedicassem a atividades relacionadas com as artes performativas de carácter histórico, o workshop contou com a presença de cerca de 60 interessados. Posteriormente, no dia 9 de Abril desse ano, no Auditório Municipal Casa da Música teve lugar a segunda parte desta iniciativa, que teve a duração de seis horas.
Mais de 80 mil pessoas passaram pelo Mercado Medieval de Óbidos de 14 a 24 julho.
Ao todo, foram 11 dias onde os visitantes puderam dar um ‘mergulho na história’ e reviver histórias, sabores e saberes de outros tempos.
Segundo Francisco Salvador, da organização, “o balanço é claramente positivo”. O número ultrapassa a expectativa da organização, “considerando bilhetes vendidos, convites distribuídos à população, pessoas trajadas à época e os menores de 12 anos que não pagavam entrada”, concretiza. O organizador destaca “o grande número de pessoas vestidas à época”, realçando a forma como participaram na festa, “interagindo com a animação, tasquinhas e visitantes, demonstrando, desse modo, o gosto do público por este tipo de evento”.
Os dias de maior afluência de público foram aqueles que os espetáculos proporcionavam cenas de recriação de batalhas e conquistas, torneios e duelos. “As condições atmosféricas, nem sempre favoráveis, não afastaram as pessoas de Óbidos, o que vem, mais uma vez, confirmar o sucesso desta iniciativa”, sublinhou Francisco Salvador.
Este ano, a ‘bruxaria’ e a ‘mouraria’, novidades nesta edição do Mercado Medieval, “conseguiram dar um toque exótico e fazer uma recriação bastante interessante desta área do mercado”, salientou.
Ainda, de acordo com o organizador, “há a destacar o espírito de coesão que as coletividades do concelho de Óbidos demonstraram, participando, cada uma do seu modo, tanto no sector da gastronomia, como na venda de artesanato e animação”. “O espírito associativo está bem vindo no concelho de Óbidos”, conclui.
Recorde-se que este Mercado Medieval orçou em cerca de 120 mil euros, tendo estado a trabalhar, direta ou indiretamente, todos os dias, mais de 400 pessoas.
Mendigo Basílio doa esmolas a Associações de solidariedade O figurante Joaquim Vieira Basílio, ‘pedinte leproso’ do Mercado Medieval de Óbidos, à semelhança de outros anos, doou a instituições de solidariedade o valor das “esmolas” por si angariadas. No entanto, se nos outros anos o dinheiro conseguido era entregue à Santa Casa da Misericórdia de cada localidade por onde passava, em 2005, o ator resolveu doar a totalidade das suas esmolas, conseguidas em todos os mercados onde trabalhou, à ACREDITAR – Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro e à Associação de Proteção e Apoio a
Crianças com Problemas Cardíacos. Recorde-se que o mendigo Basilius enviou, em 2004, para Câmara Municipal de Óbidos um cheque no valor de 557.09€, dinheiro conseguido entre os dias 15 e 25 de Julho de 2004. Esse dinheiro foi entregue, através do Município, à Santa Casa da Misericórdia de Óbidos.
Fontes
Tinta Fresca, Jornal de Arte, Cultura & Cidadania – 11 de Julho de 2005
RIO – Revista Informativa de Óbidos – Jan 2006
RIO – Revista Informativa de Óbidos – Mar | Abril 2005