Milhares de visitantes “conquistam” Óbidos
O Mercado Medieval de Óbidos levou milhares de visitantes, nesse ano, a uma viagem ainda mais profunda na nossa História. Os cenários da época encheram as ruas e vielas de cor e transportaram os visitantes para um mundo de reis, rainhas, saltimbancos, fadas e bruxas… tudo num mercado onde quem visitava só tinha que se deixar levar pelo ambiente criado, de forma a tornar a visita inesquecível.
Cenários da época foram a grande novidade este ano. A quinta edição do Mercado Medieval de Óbidos que decorreu, entre os dias 13 e 23 de Julho, foi uma experiência única que, através de uma recriação mais intensa da época, envolveu os visitantes no ambiente criado para o efeito e fê-los sentirem-se como figurantes do grande palco que é a Vila de Óbidos.
Na Cerca do Castelo, através de cenografia, surgia uma rua medieval. A estrutura dessa rua contou com edifícios de primeiro andar, com alpendre e rés-do-chão, onde estiveram os vendedores. Para a concepção dos cenários foi feita uma investigação acerca da arquitectura medieval no mundo e em Portugal. Na Idade Média portuguesa, Óbidos era um dos locais onde já se conheciam esses edifícios. Diversas ameias, uma torre sineira, uma fonte de mergulho de estilo gótico, uma tinturaria e um claustro, onde decorreram os espectáculos, completaram esta cena. Jorge Carvalho, responsável pela cenografia, referia que “por cada esquina que se dobra, este cenário possibilita diferentes visões de realidades da época, havendo sempre uma ligação lógica entre as partes. Para lhe dar mais cor, a sua decoração remonta ao século XIV”, acrescenta.
As habituais tasquinhas e o artesanato situaram-se, também, nesta parte do Castelo e foram das actividades mais procuradas do evento. Para evitar as escadas, foi construída uma rampa de acesso ao anfiteatro, onde se encontravam as tasquinhas, com uma torre de atalaia, que permitiu às pessoas passarem por baixo. Na fachada do Castelo esteve uma parte substancial da animação, com um palanque para a corte. O sucesso do evento foi comprovado por um inquérito no qual os inquiridos responderam positivamente a todas as iniciativas relacionadas com o mercado Medieval.
Segundo Francisco Salvador, da organização, “muita gente de diversas regiões do país, deslocou-se de propósito só para vir ao Mercado Medieval”. As pessoas marcaram presença essencialmente no período nocturno, devido ao intenso calor que se fez sentir durante o dia, oque obrigou a uma maior concentração de visitantes à noite. Isso foi notório nos espetáculos e concertos, onde a presença do público foi mais evidente.
Ainda na cerca, existiu, também, para os mais novos, um campo de jogos com tiro com arco, jogos tradicionais, entre outros, e, pela primeira vez, subindo o torreão, esteve uma exposição de armaria de diversos séculos da Idade Média. Um núcleo de castigos públicos, no local, compreendeu vários objetos de tortura, recriados para este certame, entre os quais a forca, o patíbulo e a polé.
Já no auditório de Santiago o aspecto barroco foi transformado, de forma a criar um ambiente monástico, com um scriptorium. O Museu Nacional do Traje colaborou com a organização numa exposição de trajes da época. Na Praça de Santa Maria as pessoas visitaram o mercado tradicional com frutas, legumes, animais e produtos da época. Em carácter permanente esteve, também, um acampamento de soldados recriados, com mostra de armas, e alguns póneis da Associação Cavalo D ́Óbidos para animar a população. Um dos momentos altos da edição realizou-se, nos dias 22 e 23 de Julho, com um torneio a cavalo promovido pela Viv’arte, fora das muralhas.
Todos os anos, o Mercado Medieval reúne milhares de curiosos de todo o país e turistas de todo o mundo, para um mergulho na história. O evento surgiu na tentativa de dar vida ao património de Óbidos e fixar um pouco mais os seus visitantes. Pelo peso histórico que tem e pelo panorama que oferece, a Vila acabou por revelar-se o local ideal para esta iniciativa e conseguiu um sucesso acima do esperado. Ao longo das várias edições foram-se fazendo algumas alterações mas, com os cenários desta edição, a organização sente que deu “um passo em frente”, alterando geograficamente os espaços e dando-lhes um cunho ainda mais medieval.
O Mercado Medieval de 2006 contou com a participação de cerca de 80 comerciantes, 22 coletividades do concelho e mais de 300 artistas e animadores.
”(…) Essa dimensão internacional esteve também na qualidade da oferta que a Óbidos Patrimonium, a nossa empresa municipal, conseguiu produzir na edição mais inesquecível de todas do Mercado Medieval. Aqui cruzou-se, uma vez mais, a criatividade e a inovação do organizador com uma inestimável participação das nossas associações locais que trouxeram excelente cenografia, animação própria e, como não podia deixar de ser, uma gastronomia que insiste nas ementas e na forma de ser apresentada numa aproximação à época medieval, que para além de ter que ser compreendida, deve por todos ser indefectivelmente defendida.
Exposições como a do Museu Nacional do Traje, ou a construção de rigorosas réplicas da armaria medieval, foram introduzidas à procura de uma atitude pedagógica e informativa permanente. Em suma, duas propostas, a ópera e o mercado medieval que são o exemplo daquilo que desejamos e sonhamos para Óbidos: uma terra capaz de organizar com elevado padrão de qualidade apesar das muitas dificuldades com que nos deparamos, sejam ao nível da escassez de recursos financeiros, ou a de ter uma estrutura de produção permanente.” escreveu Telmo Faria, Presidente da Câmara Municipal de Óbidos, em 2006, no Editorial da RIO.
Fontes
RIO – Revista Informativa de Óbidos – Junho | Agosto 2006