Passaram uns dias desde que comecei a caminhar em direção a Óbidos. Os meus pés latejam e doem. As minhas costas já têm dificuldade em suportar a mochila. O cansaço físico está a manifestar-se. Ao caminhar pelo interior da Península Ibérica, a paisagem vai mudando, as vilas são mais dispersas e menos populosas, o calor é mais intenso e seco.
Pela posição do Sol, devia ser quase meio-dia. O calor era insuportável. Estava praticamente a passar a fronteira quando um carro branco me aborda. Espreito e vejo um senhor com a pele queimada do sol, o rosto com as marcas da idade, um bigode acinzentado e um sorriso sincero e cativante. Após uma troca de palavras acabei no lugar do pendura a caminho da aldeia onde o senhor vivia, em Portugal. Que alívio!
Assim que chegamos, sou recebido pela sua mulher, que transbordava simpatia, que me guia até à mesa e nos serve o almoço. Além da comida ser deliciosa, eles não pararam de falar um único segundo. Caricato e simpático este povo português. Falavam das peripécias dos vizinhos e ele diz para a sua esposa:
-“E já viste bem a lata da Ofélia?! Queria dar-me uns frasquitos de doce em troca de três caixas de hortaliças e fruta… Era só o que mais me faltava! No mínimo, duas galinhas!”
Ao que a esposa retorquiu:
– “Acalma-te homem, ela ofereceu o que tinha. Ai filho, você não ligue a estes disparates. Quer mais um bocadinho!? Você precisa de se alimentar, vá…”
Assim se passou o almoço, em minudências da vida rural, tão simples e tão perfeitas. Fiquei a fazer-lhes companhia até às cinco da tarde, oferecendo a minha ajuda na lida do dia. Quando me preparava para partir para continuar a minha viagem, a senhora traz-me uma cesta com o farnel e o senhor convida-me a voltar para visitá-los.
Continuo a minha viagem já com o vento a acompanhar-me. Não tardo muito até chegar a Óbidos.
14 de julho de 2022
Jeromelo