“Viajar? Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como, afinal, as paisagens são.”
in Livro do Desassossego, por Bernardo Soares, Vol. II. Fernando Pessoa.
Eram precisamente seis da manhã. Já conseguia ver os primeiros raios de sol a rasgar o céu e já sentia o latejar do calor na minha pele. Decidi começar a minha viagem bem cedo. Ainda não eram sete e estava a sair de casa: pronto e com a mochila às costas.
Os primeiros passos são sempre os mais incertos e difíceis. Inicio a minha viagem ainda sem ritmo, mas mantenho-me apenas a caminhar em frente. Começo a notar alguns trilhos marcados na terra e decido seguir pelo que vai lado a lado com a estrada principal. Como não tenho um percurso traçado e só trago comigo um mapa, prefiro não arriscar ao ponto de ficar perdido.
Já estou distante da cidade que ainda há pouco deixei para trás e a paisagem já alterou completamente. Caminho rodeado de árvores e flores selvagens nascidas à beira do caminho. Uma vez por outra vejo animais e ouço com atenção o chilrear dos pássaros que enchem os meus ouvidos como se fosse música. Ao longe começo a ver uma pequena vila. Quando lá chegar vou parar e procurar um lugar onde possa comer algo.
Caminhar através do desconhecido não só é uma oportunidade para fazer uma pausa e experimentar novos sabores, como também é a possibilidade de conhecer todo um mundo de coisas novas e diferentes ao longo do trajeto.
7 de Julho de 2022
Jeromelo